Previsão é de que, dentro de 20 dias, o anel superior esteja apto a receber pessoas com deficiência
Ao deixar cadeirantes, obesos e cegos expostos à chuva e
impossibilitados de acessar boa parte do estádio, uma falha no projeto
do novo Beira-Rio terá de ser corrigida às pressas.
É com algum constrangimento que dirigentes do Inter reconhecem a
necessidade das obras que começam nesta quinta nas arquibancadas do
Gigante. A previsão é de que, dentro de 20 dias, o anel superior do
estádio esteja apto a receber pessoas com deficiência.
Atualmente, apenas dois setores de arquibancadas são adaptados, ambos
no primeiro nível - e ambos situados no local mais descoberto do
estádio, sem qualquer proteção contra sol ou chuva. Para piorar,
cadeirantes e líderes de entidades como a RS Paradesporto sentiram-se
excluídos das demais áreas do Beira-Rio, denunciando uma forma de
discriminação. Conforme a legislação nacional de acessibilidade, os
espaços para pessoas com deficiência devem estar "distribuídos pelo
recinto em locais diversos", e nunca em áreas apartadas do restante do
público.
Acionado por um grupo de cadeirantes colorados, o Ministério Público exigiu providências do Inter.
As obras que se iniciam nesta quinta foram previstas em um termo de
ajustamento de conduta que será assinado na próxima segunda-feira pelo
presidente Giovanni Luigi.
- Não é um documento que nos fará tomar uma atitude. É a vergonha que
sentimos por esse erro no projeto - afirma o vice-presidente de
Administração do Inter, José Amarante.
A um custo de R$ 70 mil, 45 novos lugares para pessoas com
deficiência serão espalhados pelo anel superior do Beira-Rio. E todos os
banheiros do pavimento terão um boxe adaptado - hoje, nenhum sanitário
está aparelhado no andar de cima. As atuais 58 vagas para cadeirantes do
primeiro nível, situadas em áreas separadas da torcida, devem
permanecer como estão.
- Em determinado momento, pensamos em eliminar os espaços atuais
justamente por serem um símbolo da concepção antiga de acessibilidade,
em que as pessoas com deficiência ficavam segregadas - diz o diretor de
Acessibilidade do Inter, Humberto Lippo, cadeirante convidado pelo clube
para assumir o cargo.
Mas, conforme Lippo, cegos e pessoas sem força muscular ainda podem
preferir acompanhar os jogos no primeiro nível. Isso porque a rampa de
acesso ao anel superior é íngreme demais. A aposentada Zulma dos Santos -
fotografada por Zero Hora no último dia 26, assistindo à partida entre
Inter e Brasil-Pel exposta à chuva em sua cadeira de rodas - foi
convidada pela reportagem para avaliar os novos lugares para cadeirantes
do Beira-Rio.
- A rampa é horrível - disse a colorada de 80 anos, acompanhada pela
filha Oliane, que sofria para empurrar a mãe na subida. - Eu jamais
conseguiria subir ou descer sozinha.
Dona Zulma aprovou a localização das futuras áreas para cadeirantes:
disse que a visibilidade do gramado e a proteção contra sol e chuva são
bem melhores. O Inter promete deslocar funcionários para auxiliar as
pessoas com deficiência no estádio _ inclusive para subir e descer as
rampas.
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