Em dezembro era o Grêmio quem contava as moedas e o Inter quem esbanjava – por conta da participação na Copa Libertadores. Às vésperas do quarto clássico da temporada, o cenário é outro. O Colorado monta planos para saldar dívidas, tem empréstimo milionário acertado e já se desfez de um medalhão para reduzir a folha. Enquanto isso, o Grêmio tira o pescoço da corda e vislumbra fôlego para o novo ano. A gangorra financeira está, temporariamente, invertida.
A distância entre os rivais no âmbito financeiro existe há tempos, com o Inter mais sólido e o Grêmio correndo atrás de receitas, mas em 2015 o panorama é diferente e por um motivo em comum: herança de antigas gestões. No Beira-Rio, o déficit no orçamento do ano passado foi histórico – R$ 49 milhões. Na Arena também houve acúmulo de dívidas. Para fechar a temporada 2014 no azul, o Tricolor aprovou suplementação orçamentária de R$ 17,9 milhões. Mas esta dívida precisaria ser paga ali na frente.
Com orçamento modesto (R$ 219 milhões), fora da Libertadores e sem os lucros possíveis da competição, o Grêmio também iniciou o ano envolvido na renegociação de contrato com a parceira de construção da Arena. Tudo montava um cenário catastrófico. Onde era preciso reduzir despesas, mas ao mesmo tempo montar um time forte para voltar a ganhar algo. Em sua posse, o presidente Romildo Bolzan Júnior deixou claro que pretendia 'arrumar a casa'. A ideia era pagar as contas o mais rápido possível. Mas de onde viria verba para isso? Da venda de jogadores. Se desfez dos salários mais altos do grupo, como Barcos e Marcelo Moreno, definiu um teto salarial em R$ 150 mil. Não gastou um centavo sequer com contratações, reforçando o elenco apenas com jogadores que estavam livres ou empréstimos. Exemplo disso foi o caso do zagueiro Erazo, que precisou pagar do próprio bolso a quantia que o Barcelona-EQU pedia para sua liberação.
E mesmo soando antipática à torcida, a conduta é mantida até hoje. A única investida fora da curva foi com Cristian Rodríguez, e acabou provando-se equivocada, já que ele deixou o clube sem sequer jogar 90 minutos. Mas até mesmo na hora de se desfazer do jogador o clube poupou dinheiro. A rescisão foi feita e dois meses de salários poupados. Ao todo, mais de R$ 30 milhões em dívidas foram pagos. Um dos principais 'pesos' aos cofres azuis, Kleber Gladiador, foi desligado do clube e o pagamento pela rescisão - considerada principal herança nefasta de comandos passados - foi parcelado. Na previsão da atual gestão, em um período de até três anos a situação financeira do clube será outra.
Já o Internacional, que tem orçamento para 2015 na casa de R$ 290 milhões, contraiu novas dívidas e viu antigos credores reclamarem. Foi o caso do Colón de Santa Fe-ARG, que acionou a AFA e a Fifa para receber parcela atrasada da transferência de Carlos Luque. O déficit de 2014 se juntou aos gastos atuais e agravou a situação por completo, levando o clube ao extremo: atrasar o repasse para fornecedores e empresários em busca de pontualidade nos vencimentos do grupo de jogadores.
Salários e direito de imagem seguem em dia, mas as premiações ao elenco foram pagas depois do previsto. Cifras de luvas também seguem em aberto, como ocorreu no caso de Nilmar – vendido ao Al Nasr para aliviar a folha e gerar mais receita. Outra saída encontrada pelo Colorado foi buscar um empréstimo de quase R$ 50 milhões junto a bancos. O valor, a ser pago em 42 vezes, devolve fluxo de caixa e reduz a necessidade de venda dos jovens em ascensão no time. Outro trunfo vermelho para não alongar a crise é o quadro social
No campo, a vantagem da temporada é do Inter. Em três jogos, uma vitória e dois empates. Com título comemorado em cima do rival. No domingo, a partir das 18h30min, o Grêmio tentará transformar em resultado prático as contas que fez até agora. E o Colorado defenderá sua hegemonia mesmo com a luz de alerta das finanças acionada.
Futebol - UOL Esporte
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