“O nosso compromisso, além de recolocar o Inter de volta à elite do futebol brasileiro, é que o presidente que venha a assumir em 2019 não encontre o cenário que encontramos.” A ambição da nova direção do Internacional, expressa nessa frase do presidente, Marcelo Medeiros, parece modesta para um clube que nos últimos dez anos foi reconhecido nacionalmente pela boa gestão e abusou de slogans como o “Campeão de tudo”. Mas não é. O legado dos antecessores, Vitorio Piffero e Giovanni Luigi, é problemático.
O clube gaúcho opera acima de sua capacidade financeira há anos. A receita recorrente foi de R$ 212 milhões em 2016 – aí contam os direitos de transmissão, os patrocínios, os sócios-torcedores, quase tudo, mas não as transferências de atletas, uma receita que não se deve contar. Já a despesa operacional, antes de considerar juros, bateu em R$ 278 milhões. A diferença negativa entre o que entra e o que sai do caixa é persistente. A conta não fechou nenhuma vez nem com Piffero, entre 2015 e 2016, nem com Giovanni Luigi, entre 2011 e 2014, apenas para citar os presidentes mais recentes.
O Internacional se acostumou a fechar essa conta com a venda de jogadores. O retrospecto, de fato, é muito positivo. A equipe chegou a faturar R$ 100 milhões líquidos em 2014, metade de toda a arrecadação que conseguiu naquele ano. O problema foi contar com isso para equilibrar as finanças. Quando a performance do departamento de futebol no comércio de jogadores caiu, na gestão de Piffero, o orçamento estourou de vez. Em 2016, o clube negociou quase R$ 20 milhões, mas, descontados os repasses para empresários que detinham partes dos direitos econômicos dos atletas, o Inter recebeu apenas R$ 14 milhões. Um décimo de dois anos antes.
Duas medidas foram tomadas por Piffero para solucionar o quadro em seu biênio. Primeiro passou a tomar mais empréstimos bancários. Os débitos com instituições financeiras dobraram de R$ 29 milhões em 2013 para R$ 62 milhões em 2016. O problema disso é que banco cobra juro, e aí as despesas financeiras, que não entraram naquele cálculo operacional do parágrafo anterior, dobraram junto. A segunda atitude foi negociar antecipadamente os direitos de transmissão de 2021 a 2024 com a TV Globo e os de 2019 e 2020, apenas para a TV fechada, com o Esporte Interativo. Isso rendeu ao clube R$ 61 milhões em luvas no decorrer de 2016 e deu um alívio.
Outro movimento aconteceu nas contas do Internacional. Entre 2014 e 2016 os gastos com salários e remunerações de atletas, essenciais para conseguir resultados em campo, caíram de R$ 132 milhões para R$ 119 milhões. A folha salarial colorada, que estava entre as quatro maiores do país e explicava em boa parte por que o time era favorito nas competições que jogava, passou a ser a sétima do país. Mas as despesas como um todo não foram reduzidas. Pelo contrário. O Beira-Rio foi reformado para a Copa do Mundo de 2014 e, embora não tenha endividado o time, aumentou gastos administrativos, que foram de R$ 108 milhões para R$ 133 milhões. O custo com patrimônio, óbvio, é importante. Mas a inversão nas despesas afeta o futebol.
A soma de todos esses problemas é o que faz agora o novo presidente se queixar da situação que encontra. O orçamento colorado para 2017 conta com receitas na casa dos R$ 250 milhões, sem considerar vendas de atletas, e despesas em torno de R$ 310 milhões. Para piorar, há R$ 155 milhões em dívidas de curto prazo, que vencem no decorrer de 2017. Medeiros não tem mais o recurso das luvas por novos contratos de TV – Piffero queimou o cartucho e mesmo assim fechou 2016 com déficit. Na Série B, há uma real probabilidade de que algumas receitas, sobretudo com sócios e estádio, caiam. Quanto às dívidas, resta ao novo presidente renegociá-las, pagá-las com novos empréstimos ou dar calote. Não há dúvida de que o Internacional, outrora habituado a slogans campeões, enfrentará em 2017 a temporada mais desafiadora de sua história recente.
RODRIGO CAPELO
17/05/2017 - 12h30 -
Revista ÉPOCA
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