Quero dizer pra vocês que tive o prazer de conhecer o Marcos Paulo.
Mais do que o centroavante, o goleador, conheci o cidadão Marcos Paulo.
O cara simplesmente tem 6 gols nos últimos 7 jogos com a camisa do
Grêmio. Só que me arrisco a dizer que isso é o menos importante.
Apresento a vocês uma bela história de vida, de um cara que tem 19 anos,
mas já é um vencedor.
Grande amigo de Luan, Marcos Paulo está sendo trabalhado para jogar
no time de cima em 2015 e é apontado como uma das promessas das
categorias de base.
Vamos lá:
JB: Como você chegou aqui no Sul?
MP: Eu subi pro profissional do Caxias em 2012,
quando fomos campeões do primeiro turno do Gauchão. Meu primeiro jogo
como profissional foi contra o Grêmio, eu tinha 17 anos. O Everaldo
estava lá, ele era do Grêmio e não poderia jogar. Eu estava na
expectativa pra entrar. Aos 35mim do segundo tempo eu entrei e no meu
primeiro toque na bola eu fiz o gol de cabeça.
JB: E a vinda pro Grêmio?
MP: Fui titular até a saída do Paulo Porto, mas veio
outro treinador e ele não me colocou pra jogar. O Caxias não quis me
liberar junto com o Wangler. Eu joguei a série C no resto ano. Em março
de 2013 eu vim pra cá.
JB: E como tá a tua vida aqui?
MP: Então, jogávamos eu e o Luan no ataque. Machuquei na estreia do Brasileiro. Lesão no ombro. Fiz cir
urgia e voltei apenas em maio deste ano. Comecei jogando o gauchão. Não
fui titular, mas em 5 partidas que eu entrei, fiz gols. Agora eu voltei a
ser titular.
JB: Já tem alguma coisa pra subir pro time profissional?
MP: Este é meu último ano de júnior. No ano passado
eu tinha até a possibilidade de subir, mas tive a lesão. Isso atrapalhou
um pouco o meu planejamento. Agora recuperado, eu pretendo aproveitar o
máximo pra estar no Gauchão do ano que vem.
JB: E tu e o Luan meu?
MP: A gente praticamente mora junto. Eu fico
bastante tempo lá com ele. Eu resido no alojamento, só que fico
bastante tempo com ele. A gente é amigão mesmo. Desde quando a gente
chegou, e a gente se fechou. Éramos do mesmo quarto no alojamento. A
história de vida dele é muito bacana. Muleque não tem nem o que falar
dele. A mesma pessoa sempre. Não deixou subir pra cabeça nem nada. A
mesma pessoa com qualquer um. Pode chegar até ali no segurança. Desde
o porteiro…
JB: Como foi tua vida, pelo que tu já passou?
MP: Como de qualquer um jogador. Batalhei pra
chegar. Joguei na várzea no Rio. Alguns clubes não tinha café da
manhã. Não vou dizer que passei fome, eu tinha minha vó e meu irmão
que é jogador, mas batalhei muito pra chegar onde estou. Devo tudo a
minha família. Sem eles eu poderia ter largado. O começo é complicado,
até tu assinar o primeiro contrato. (voz emocionada) Eu to no futebol
pra dar uma vida melhor pra eles. Eu ainda não pude dar o melhor, mas
pude realizar muitos sonhos deles. Construir uma casa pros meus pais e
na minha cidade, interior do rio, minha cidade faltou um palmo pra tapar
de água na enchente.
JB: Enchente?
MP: Teve um enchente que eu estava lá de férias.
Tava chovendo muito durante o dia, eu fiquei olhando televisão e fui
dormir pelas 23h. Ai tem um valão do lado da minha casa e, às 2h, a
minha mãe me acordou porque estava entrando água em casa. Nós começamos a
levantar as coisas. Eu não consegui falar com meu pai. Ele é vigilante e
teve muito serviço onde ele estava no dia. Peguei a bicicleta e fui até
o serviço dele buscar ele. Foi ele chegar e arrebentou o muro. Ai não
teve como salvar nada. A gente conseguiu tirar geladeira, televisão, mas
cama, sofá nós perdemos tudo.
JB: E ai?
MP: Ah, ver minha mãe e meu pai chorando, mexeu
comigo. Aquele dia mudou a minha vida. Eu disse que iria construir a
casa deles. E eu consegui. Quando eu vi a casa do jeito que eles
queriam, não tem nem como falar. (voz emocionada) Eu pegava mais da
metade e mandava pro meu irmão. Ele que cuidava do que tinha que
comprar.
JB: Tu quer dar mais alguma coisa pra eles?
MP: Não quero mais que eles trabalhem. Não quero que
meu pai trabalhe. Ele já sofreu bastante. Trabalhar a noite é
complicado, ele já tem 55 anos. E a minha mãe é dona de casa, não
trabalha. Ela vive mais por mim. Eu mando todo o mês um dinheiro pra ele
comprar as coisas dela. Eu estou aqui pra eles. Só Deus sabe o que eles
já passaram.
JB: Teu irmão joga bola, fala dele!
MP: Ele tem 28 anos. Já é casado, tem filho. Agora é
comigo. Quando eu era novo ele corria pela gente. Quando eu era mais
novo ele me ajudava, dava chuteira, roupa. Todo este tempo ele que
correu pela nossa família. Eu era novo e não tinha um lado financeiro
bom. Agora eu estou podendo ajudar mais. Agora é comigo. Ele está vendo
que eu estou tendo esta oportunidade em um time grande. Eu comecei a
jogar futebol por conta dele. Eu via ele jogar no Madureira e me
inspirei nele. Se hoje estou aqui, devo a ele. Não tem nem o que falar
que me emociono. Agora ele longe… (olhos vermelhos).
JB: Tá, vamos falar de outra coisa. Tu teve uma lesão, mas já tá curado, né?
MP: Eu tive a infelicidade de no primeiro jogo do
Brasileiro me machucar. Eu achei que não era nada, mas o médico disse
que teria que operar. Cinco meses parado. Se não fosse o Roberto Abii,
fisioterapeuta da base, eu não estaria aqui. Tanto que falei pra ele, a
minha primeira camisa do profissional vai ser dele. Eu não tinha
movimento nenhum. Tinha dia que acordava e pensava na dor que ia sentir.
Que ia chorar de novo. Muitas pessoas não sabem o que a gente passa. A
dor que a gente sente. O maior exemplo é o Luan. O cara lesionou, mas
ele joga com o pé. Só que dói. É uma cirurgia, né cara. O Luan via as
pessoas falando no Face, Instagram, mas não sabem o que o cara passa.
Enfim, mas agora estou feliz, estou jogando e fazendo o que eu sei fazer
que é gol.”
JB: Qual tua meta aqui no Grêmio?
MP: Agora eu quero sequência e conquistar titulo.
Cheguei no Grêmio e não conquistei um título. Só bati na trave, caímos
na semi da Copa do Brasil e perdemos pro Palmeiras no Brasileiro Sub-20.
Nome: Marcos Paulo Carvalho Inez
Data de nascimento: 27/09/1994
Naturalidade: São Fidélis [RJ]
Altura: 1,83 m
Créditos: JBFilho Reporter