Carrasco do Palmeiras em 2002 revela calote do Internacional em oferta de mala branca
Mesmo reserva do Vitória na ocasião, André foi decisivo para a primeira queda de divisão da história do Palmeiras. Foi dele o último gol sofrido pela equipe então comandada por Levir Culpi naquela temporada, decretando o triunfo dos baianos por 4 a 3 no Barradão. Quatorze anos depois, o atacante já fala abertamente sobre a mala branca que moveu o seu time naquele 17 de novembro, aponta um envolvido - segundo ele, o Internacional fez uma proposta por telefone - e até acha graça por jamais ter recebido a quantia acordada.
Gazeta Esportiva: Você estava em campo quando o Palmeiras foi rebaixado pela primeira vez, em 2002, e até marcou um gol pelo Vitória. O que se lembra daquela partida?
André Neles: Foi um jogo tenso. O Vitória estava bem no campeonato e poderia ficar entre os oito melhores com uma combinação de resultados. Entramos determinados a vencer. Já o Palmeiras estava nervoso, não conseguiu fazer um bom jogo. Acabamos ganhando, e eu tive a felicidade de marcar o quarto gol. Saiu de uma grande jogada do Zé Roberto, que entrou na área, driblou dois zagueiros e chutou. O Sérgio rebateu, e a bola caiu no meu pé. Só tive o trabalho de empurrar para dentro. Isso praticamente rebaixou o Palmeiras.
GE: Fala-se muito em mala branca no Campeonato Brasileiro. Embora vocês tivessem possibilidade de classificação, houve esse tipo de incentivo financeiro para rebaixar o Palmeiras?
André Neles: Naquela época, houve, sim. Vários clubes ligaram para a gente, oferecendo a mala branca para vencer o jogo. Mas também não pagaram. Então, não adiantou nada (risos).
GE: Ninguém pagou?
André Neles: Não. Ninguém arcou com o combinado.
GE: Quais foram os clubes que ofereceram dinheiro para o Vitória?
André Neles: O Inter foi um deles. Ofereceu um dinheiro e não mandou. A gente ganhou também porque o Inter precisava do resultado, estava para cair. Foi um dos clubes que entraram em contato e fizeram a oferta. Mas ninguém pagou. Futebol é assim: a mala branca é oferecida às vezes, mas acaba não aparecendo.
(O Internacional terminou o Campeonato Brasileiro de 2002 na 21ª colocação, com só dois pontos de vantagem para o Palmeiras.)
GE: Como a proposta da mala branca é feita de maneira sigilosa, imagino que seja difícil para vocês cobrarem.
André Neles: Não tem como porque é um telefonema, né? Você até tenta cobrar depois, vai atrás de quem prometeu. Mas aí é a palavra de quem prometeu e não vai pagar contra a sua. Fica aquele jogo de empurra, e não sai nada.
GE: Como funciona a oferta?
André Neles: A pessoa te liga e fala: olha, tenho tanto para você ganhar o jogo amanhã. Ganhando, a gente leva o seu dinheiro depois do jogo. Aí, você ganha, mas o dinheiro não vem.
GE: Já te pagaram algum prêmio de mala branca ao longo da carreira?
André Neles: Já me ofereceram várias vezes. Mas, receber mesmo, nunca recebi. Jamais chegaram a pagar (risos). Mesmo assim, é uma coisa feita mais para te motivar.
GE: E dá certo?
André Neles: Nem precisa disso. O jogador já está muito focado em partidas assim, então nem pensa nessa ajuda. Dinheiro é bom, né? Mas acaba sendo algo imprevisível, que pode não chegar. Você nem fica esperando muito.