Herói da conquista do título mundial contra o Barcelona, meia vive dias de quase anonimato em Curitiba e procura um clube para jogar em 2012
O exílio em Curitiba alargou a ferida aberta na relação entre Adriano
Gabiru e o Inter. A fala mansa em frases curtas e diretas ao telefone
deixa escapar um profundo ressentimento do jogador que saiu da reserva
para fazer o gol mais importante da história do clube, na decisão do
Mundial de Clubes contra o Barcelona, em dezembro de 2006. À espera de
um clube, Gabiru, 34 anos, vive seus dias de anonimato como um herói
marcado pela mágoa.
- Me colocaram para escanteio - afirmou, em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM.
Entre boas lembranças e mágoas, Gabiru mira chuteira que usou no Mundial
Gabiru se refere à sua saída do clube - como se fosse pela portas dos
fundos - menos de cinco meses após o Mundial. Parecia que o gol diante
dos catalães havia amainado um ano de críticas da torcida e rotina no
banco de reservas. No apoteótico retorno a Porto Alegre, gritos de “Me
perdoa, Gabiru” preenchiam as ruas da cidade. Do alto do carro de Corpo
de Bombeiros, viu, em meio ao mar vermelho da Avenida Beira-Rio, uma
faixa com a apaixonada constatação: “Gabiru é melhor que Ronaldinho”.
O começo de 2007, no entanto, tisnou o encanto. Más atuações no Gauchão
e a saída de Abel Braga (Alexandre Gallo assumiu) fizeram Gabiru
revisitar os dias de luta pré-Mundial. Rumou ao Figueirense, onde durou
poucos meses, e de lá e foi repassado ao Sport, de Recife. Na celebração
de um ano do título, os gestos de reconhecimento da torcida se
repetiram num Gigantinho lotado. Ali, Gabiru já era um visitante.
Parecia que estava tudo bem. Nem tanto. A mágoa com o clube perdurou.
- Claro que perdoei a torcida, sou um cara tranquilo. Mas acho que não
iria mais a uma festa do Inter se fosse convidado novamente. Pelo que
fizeram comigo. Naquele momento, fiquei com raiva. Agora, não. Fico
mesmo meio chateado de sair daquela maneira, treinando em separado. Mas
fazer o quê? Futebol é assim. Sempre tem um para ser julgado. Caía tudo
nas minhas costas.
Ressentimentos à parte, o fato é que Gabiru não engrenou. Imperava a
ideia nos corredores do Beira-Rio que não lhe faltava qualidade técnica.
O problema do meia estava na sua rotina desregrada longe dos gramados.
Tanto que a boa forma de Gabiru no Mundial não surpreendeu dirigentes e
comissão técnica. Concentrado durante 20 longos dias em terras frias e
introspectivas do Japão, o jogador rendeu, a ponto de impressionar. Num
treino, lhe coube simular os movimentos de Ronaldinho, então grande
craque do Barcelona. Abel deixou o trabalho exultante, mãos ao alto:
- Pô, o cara acabou com o meu treino!
- Lá, eu treinei bem, treinei sério - confirma o atleta. - Estava preparado.
Claro que perdoei a torcida, sou um cara tranquilo. Mas acho que não
iria mais a uma festa do Inter se fosse convidado novamente"
Adriano Gabiru
A entrevista foi com Gabiru, mas talvez o nome mais citado tenha sido o
de Abel. O jogador coloca na conta do técnico a “culpa” por sua ida ao
Mundial. Gabiru confessa que sequer esperava viajar. Substituir o
capitão Fernandão diante do Barcelona estaria mais para um rotundo
devaneio.
- Eu fiquei meio assim, né? Estava mal no Brasileirão - reconhece. - Mas o Abel teve personalidade e me escolheu.
Apesar de não ser citado, Fernando Carvalho também merece um pouco dos
créditos pela improvável redenção de Gabiru em Yokohama. Afinal, o
presidente do clube na época do Mundial tentava contratar o meia desde
2002, ainda em seu primeiro mandato. Só conseguiu em 2006.
A insistência valeu a pena. O gol sobre o Barcelona valeu por mil. É
inclusive capaz de tirar a passividade da voz de Gabiru e levá-lo um
plano mais ameno, sem ressentimentos e lembranças desagradáveis. Ao
descrever os momentos que o conectaram com a eternidade, mescla
humildade com pitadas de humor. Espontâneo, não enfeita, fala o que
pensa, o que acha que realmente tenha acontecido naquele 17 de dezembro
que ainda não terminou.
- Eu fui acompanhando a jogada. Nunca imaginei que fosse fazer o gol.
Ela quicou, e eu chutei. Depois me perguntaram por que eu não driblei o
goleiro... Se eu fosse do nível de um Ronaldinho, tudo bem, até poderia -
justifica, já se esquecendo da carinhosa faixa que havia avistado há
cinco anos na multidão.
Ela é uma prova de que, para os colorados, sim, “Gabiru é melhor que Ronaldinho”.
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