Em breve, o Beira-Rio será sacudido com o desfecho das investigações do Ministério Público. Provocados pelo Conselho Deliberativo do próprio clube, os promotores de Justiça realizam uma verdadeira devassa na administração colorada, sobretudo no período da gestão do ex-presidente Vitorio Piffero (2015/2016). Ultimamente, a apuração aumentou o seu espectro, alcançando outros setores do clube, inclusive o departamento de futebol.
Apesar de o relatório da Ernst & Young que deu início ao processo apresentar outras várias irregularidades, o MP inicialmente concentrou a investigação no pagamento de mais de R$ 9 milhões a um conjunto de quatro ou cinco empresas de construção civil - conforme revelou o Correio do Povo em agosto do ano passado. Além dos valores elevados, não há evidências de obras que tenham sido efetivamente realizadas e que justifiquem esses pagamentos, alguns realizados em dinheiro vivo.
Neste lado, houve clara evolução. Segundo apurou a reportagem do Correio do Povo, o MP já conseguiu identificar a existência de fraude na contratação dos serviços, embora ainda não tenha comprovado os “beneficiados” pelo esquema. Os responsáveis pelas empresas que receberam os valores já estiveram no MP para dar explicações. Todos foram acompanhados por advogados. Alguns recusaram-se a falar, o que causou estranheza entre os promotores, já que ainda não há qualquer acusação contra eles.
Mais recentemente, o MP identificou sinais de possíveis fraudes em outros setores do clube. Por isso, dirigentes que estiveram na gestão de Piffero, à frente de outras áreas da administração, viraram alvo dos promotores. A celebração de acordos na Justiça do Trabalho que, em tese, teriam prejudicado o Inter, está na pauta, por exemplo.
Outro assunto levantado pelos promotores são os contratos do departamento de futebol. A investigação encontrou indícios de irregularidades e de pagamento de "comissões" para a renovação e a rescisão do contrato de jogadores. Pelo menos um deles, o zagueiro Ernando, esteve no MP na condição de testemunha para fornecer informações.
Mas a investigação segue. Quase semanalmente, o MP solicita novos documentos e informações ao Inter. Os promotores, após as investigações, oferecerão denúncia contra um ou mais envolvidos ou arquivarão o caso. Pessoas próximas do caso consideram a segunda hipótese extremamente improvável.
Renovação sob suspeita
Na condição de testemunha, o zagueiro Ernando compareceu ao Ministério Público há algumas semanas. Ele foi chamado para fornecer informações sobre a renovação do seu contrato, ocorrida julho de 2016, quando o Inter já caminhava rumo ao rebaixamento.
Com seu depoimento, o zagueiro não “comprometeu” nem dirigentes da época nem seus procuradores ou empresários. Os promotores estranharam os valores envolvidos na negociação. Com contrato em vigor até dezembro de 2019, Ernando está no grupo à disposição de Odair Hellmann. Recuperado de uma cirurgia, ele faz a sua pré-temporada.
Quebra de sigilo é solicitada
Um dos passos mais importantes dados pelo MP foi a solicitação à Justiça da quebra dos sigilos fiscal e bancário de ex-dirigentes e de outras pessoas, segundo apontam as investigações, ligadas a fraudes cometidas no clube. Os dados, que não foram recebidos pelos procuradores em sua totalidade, podem comprovar o repasse de valores entre ex-dirigentes e empresários, principalmente na parte da investigação que trata da contratação dos serviços de construção civil. Tais empresas estariam vinculadas a um mesmo escritório contábil, além de divulgar dados coincidentes, como o número do telefone, por exemplo.